Associação de Diabéticos do Distrito de Aveiro

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

“A diabetes é um presente que se for bem recebido dá qualidade de vida”

Entrevista ao Presidente da ADDA, Filipe Tavares, pelo Jornal Correio doVouga, Quarta-feira, 02 de Junho de 2010

 
“A diabetes é um presente que se for bem recebido dá qualidade de vida”
 
Como surgiu a Associação de Diabéticos do Distrito de Aveiro (ADDA)?


Surgiu a partir de uma necessidade premente. Não havia um apoio para um grupo de pessoas, os diabéticos, que em Portugal são cerca de 400 mil. O dr. Simões Pereira, responsável pelo Serviço de Endocrinologia do Hospital de Aveiro, desde sempre quis que Aveiro tivesse uma associação com actividades específicas para eles. Ele foi o motor do aparecimento da associação. Deu o pontapé de saída. Começamos a reunir esforços, juntou-se um grupinho e a partir daí as coisas aconteceram.

Juntou-se à associação, logo no início, em 2003, como fundador, porque descobriu que é diabético…

Sim. A minha diabetes é fulminante. Apareceu sem mais nem menos, talvez por razões hereditárias. O meu irmão também ficou diabético aos 30 anos. Eu não festejei os 30 anos no hospital porque quis festejá-los em casa, mas a seguir fui logo para o hospital. Aos 30 anos, tive esta prenda.

Como é que descobriu?

Os sintomas, na diabetes tipo I, que é omeu, são: ter muita fome, muita sede e muita vontade de ir à casa de banho, os chamados “três pês”, respectivamente, polifagia, polidipsia e poliúria. Era capaz de beber uma garrafa de água de litro e meio em 30 ou 40 segundos. Levantava-me sete ou oito vezes por noite para beber água e comer.

O que acontece é isto: temos energia, mas está no sangue e não passa para as células.

Daí a fome, apesar de termos um excesso de açúcar no sangue. A insulina é a chave que

fazer chegar a energia às células. Quando o pâncreas decide não produzir insulina, temos nós que a introduzir artificialmente. No tipo I, há uma falência total do pâncreas. No tipo II, que acontece geralmente em pessoas obesas, o pâncreas produz insulina insuficiente. Se conseguirem fazer uma dieta equilibrada e emagrecer, eventualmente deixam de ser diabéticas. À partida, o tipo I não tem nada a ver com a dieta, em termos de causas. Sabia-se que podia acontecer por voltados 30 anos, mas esta barreira tem vindo a descer e encontramos diabéticos tipo I com 15 ou 20 anos, e até com meses.

Inicialmente, ficou assustado. Obrigou-o a alterar alguns hábitos.

A diabetes é uma doença que “morde pela calada”, como se costuma dizer. Aparentemente está tudo bem, mas se não tomarmos cuidado, vamos sofrer o reverso da medalha mais tarde. A doença é um presente que pode ser bem ou mal recebido. Se for bem recebido, dá qualidade de vida, porque uma pessoa tem mais cuidado na alimentação e no exercício físico e até pode durar mais tempo. Contudo, se não aceitares bem a doença e não cuidares bem de ti, podes receber outras doenças por acréscimo, como a cegueira, problemas de circulação, problemas cardíacos, de rins…


A diabetes obriga a uma grande disciplina alimentar?

É um ponto que vale a pena esclarecer, porque, de facto, o diabético não faz uma dieta de diabético, mas normal, que todos deviam fazer. Há uns anos, falava-se de “dieta para diabético”. Isso hoje está ultrapassado. Nós devemos comer o que toda a gente devia comer: uma dieta equilibrada, com atenção às gorduras e aos açúcares de absorção rápida, atenção ao desporto.

Quantos associados tem a ADDA?

Temos cerca de 120. Mas alguns são pouco activos. Desde que tomei posse, a ADDA vai tendo mais obra feita e agora até os laboratórios farmacêuticos começam a apoiar-nos. A nossa presença vem-se impondo afirmativamente como serviço à sociedade em geral.

A ADDA tem sede?

Não temos, mas precisamos. Nessa altura, esperamos ter um tempo regular para atender diabéticos e quem quiser esclarecer dúvidas ou mesmo trocar de aparelhos. Para já, temos recursos humanos disponíveis – por exemplo a enfermeira Madalena,reformada do Hospital de Aveiro. Já falámos com a Câmara Municipal de Aveiro e disseram-nos para aguardar um tempo, porque estão a reconverter espaços das associações. Falou-se do Mercado de Santiago. Eu preferia algo mais próximo do centro. Vamos ver o que vai acontecer.

Em breve, a ADDA vai ter algumas actividades para os associados, mas abertas à comunidade em geral…No âmbito da educação, estamos a promover um “hora do conto” no Centro Comercial das Glicínias, uma vez por mês,para escolas que convidamos. A propósito do conto fala-se de alimentação e exercício físico. Temos, também, ido às escolas. Hoje [28 de Maio] estivemos na Escola Secundária Homem Cristo, em Aveiro. Os alunos estavam a estudar a alimentação e convidaram-nos. Foi muito interessante. A participação foi excelente. Estavam atentos e preocupados, até porque dos 40 alunos presentes, quase metade tinha familiares com diabetes. A ADDA está disponível para ir às escolas. Este ano estivemos também na EB2.3 de Ílhavo, no Instituto Duarte Lemos, na Trofa, e em Santa Maria da Feira. Promovemos ainda actividades desportivas e concursos literários escolares.

Nos próximos dias vamos ter actividades mais físicas. A primeira é o cicloturismo dia 10 de Junho. Esperamos ter cerca de 50 pessoas a participar. Saímos de Aveiro e vamos até à Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré. Vamos conhecer os prazeres da Ria, sentir o azul e verde da vida nesta zona envolvente de Aveiro. As inscrições ainda estão abertas.

Nos dias 11 e 12 de Julho, vamos ter um fim-de-semana radical em Ribeira de Pena (perto de Vila Real), numa parceria com um ginásio de Aveiro. Teremos canoagem, slide, caminhada, etc. No tempo da praia, teremos algumas caminhadas na praia e na serra. E pensamos até fazer uma escolinha de surf.

A ADDA prepara-se para promover um grande certame para diabéticos e população em geral...

Sim. Anualmente, à volta do dia 14 de Novembro, Dia dos Diabéticos, há actividades que reúnem os diabéticos de todo o mundo.

Em Portugal é o Fórum da Diabetes, que vai circulando pelo país. Foi no Porto, nas Caldas da Rainha, em Lisboa, Este ano, no fim-de-semana de 14 de Novembro, será em Aveiro, no Parque de Exposições. Vamos ter algumas novidades em relação aos anos anteriores, como um espaço ligado à juventude, com música e actividades radicais, espaços para actividades desportivas, um fórum das associações regionais e nacionais, além de sessões e conferências sobre temas de interesse para os diabéticos. Vai ser uma actividade em grande.

Como é que as pessoas se podem informar sobre a associação e as suas actividades?

Está tudo no sítio www.diabetes-aveiro.com e no blogue diabetes-aveiro.blogspot.com, incluindo contactos telefónicos.

É fácil tornar-se sócio?

É muito simples. Basta mandar um email, que a seguir contactamos a pessoa, ou via telefone. Nas actividades que vamos fazendo, também aceitamos inscrições de sócios. A quota é um euro por mês. Os associados, logo à partida, recebem um “pack” de materiais que nos são oferecidos pelos laboratórios farmacêuticos e, conforme as actividades, têm descontos.

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